Há quem diga que as pessoas mudam, que o tempo e as circunstâncias da vida assim fazem com que isso aconteça. Concordo.
Há quem diga que tudo tem um tempo exato para acontecer, sejam coisas boas ou coisas más. Concordo.
Há quem diga que amores podem virar desamores e vice versa. Concordo.
Há quem diga, para não deixar para amanhã o que podemos fazer hoje. Concordo.
Há quem diga que nada é impossível, que para isso basta tentarmos e torná-lo possível. Concordo.
E depois há quem diga que tudo tem um fim. Não.
Não concordo, porque há coisas, se bem que coisas não é o termo mais apropriado para se dar, mas mesmo depois de algo ter acabado, não quer dizer que seja um fim, porque as pessoas até podem vir, ir e nunca mais voltar, mas existem coisas que ficam. O cheiro fica, o desejo permanece e a lembrança crava-se na nossa memória como uma tatuagem. E mesmo que as nossas direções sejam agora outras, há sempre algo que nos leva até esse passado, persistindo em continuar presente.
"Vinham sempre à mesma hora, não sem antes se arranjarem cuidadosamente um para o outro. Ela num duche demorado, jasmim na pele nua, aveia no cabelo negro e um leve tom no rosto, preceitos que rematava com um batom discreto, lábios de rosa chá. Ele, bem, ele era todo nervos às voltas no quarto minúsculo até acertar com o vestir, quase sempre o mesmo, que a vida não permitia vaidades nem grandes nem pequenas. "
Foi em setembro que te conheci...não, não é a musica do Vitor Espadinha, mas bem que poderia ser.
Deviam ser meados de setembro quando o encontro se sucedeu, já falavam há algum tempo, mas um encontro face to face, ainda não tinha acontecido. Marcaram o local, foram buscar uma boa dose de coragem sabe-se bem lá onde e seguiram em frente na companhia do Senhor Receio e da Dona Adrenalina que se faziam sentir a cada respiração por eles feita.
Um "olá" para aqui e um "tudo bem" para ali para começar aquele início de tarde e todas as outras palavras foram aparecendo e saindo das suas bocas de um modo muito aleatório e imprevisível. De quando em vez escutava-se um silêncio, silêncio esse que parecia abordar de uma forma muito estranha o olhar que divagava entre corpos...ai se o pensamento falasse...
Aos poucos a insegurança foi-se perdendo com a ajuda de uma ou outra conversa mais divertida, normalmente feita por ela e naquele momento não eram nada mais, nada menos que duas pessoas de sexos opostos, já dentro de um carro.
Houve alturas em que pareceu que o desejo queria fazer alguma coisa, mas conteve-se, talvez por ser o primeiro encontro e só meses mais tarde se veio a descobrir que esse mesmo desejo, já gritava nesse dia por muito mais do que aquilo que realmente foi feito.
Conversa puxa conversa e sorriso contra sorriso, onde os lábios predominavam, tanto um quanto o outro o que mais queriam naquele momento era beijarem-se...mas ele não queria tomar a iniciativa de o fazer, receava que ela não gostasse do abuso e não queria que aquele encontro fosse o primeiro e o último também, precaveu-se.
Ela, e visto que ele não ganhara a coragem suficiente para a beijar e como desde sempre foi uma mulher determinada, aproximou-se dele e tentou beija-lo...ele resistiu, chegando-se um pouco para trás, "mas que raio está ele a fazer, a fugir de um beijo meu, porquê?" - pensara ela na altura, não se deixou intimidar e prosseguiu até alcançar o que desejava, os lábios daquele homem, lábios esses ainda por descobrir e explorar, e que tanto tinham para dar e sentir.
Foi uma sensação que ficou eternamente tatuada na memória e o sabor desse beijo parece que ainda permanece nos dias de hoje. É difícil explicar o que se sentiu, mas a certeza foi apenas uma, é que foi bom e valia a pena repetir vezes sem conta.
Foi isso mesmo que tentaram fazer e conseguiram durante alguns anos que passaram a voar numa aventura altamente perigosa e luxuriante.
E agora...temos setembro de novo, não aquele setembro de outrora, mas este setembro em que a memória insiste de uma forma quase pragmática relembrar tudo aquilo que se viveu naquele dia e nos dias que surgiram a seguir.